Roteiro para o clima volta ao ponto de partida
Por Ricardo Garcia
13.12.2007
Nada pode ilustrar mais o contraste entre palavras e acções do que o dia de ontem na conferência climática das Nações Unidas em Bali. Logo de manhã, o tapete vermelho já estava estendido à entrada do centro de convenções para a chegada de 144 ministros e seis chefes de Estado e de Governo.
Na retórica, as expectativas não se defraudaram: houve sucessivos discursos a clamar por um acordo na conferência que está a tentar lançar um roteiro para discutir novas e urgentes medidas contra o aquecimento global.
Ao mesmo tempo, noutra sala, as negociações sobre o texto que seria a base desse roteiro chegavam a um impasse. Com obstáculos levantados por diversos países, o que deveria ser a base de um acordo transformou-se num conjunto desconexo de sugestões, a desmoronar como um castelo de cartas. Praticamente voltou tudo ao ponto de partida e espera-se que hoje surja um novo texto, fruto de contactos entre um grupo mais restrito de países.
Para montar uma engrenagem eficiente, falta uma peça central: como encaixar os EUA num acordo em que todos os países desenvolvidos se comprometam a controlar mais as suas emissões de gases que aquecem o planeta. "É fundamental os EUA definirem que envolvimento querem ter", avalia o secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa.
Os EUA têm-se oposto a referências, nesta fase, a metas de redução de emissões de dióxido de carbono (CO2) ou à menção de que devem ser reduzidas. "Quando os números aparecem num texto, predeterminam e dirigem as negociações num certo sentido", disse ontem, em Bali, James Connaughton, o principal conselheiro ambiental de George W. Bush.
Apelo de Ban Ki-moon
Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, reuniu-se terça-feira com a delegação dos EUA. "Pedi ao Governo dos Estados Unidos que exercite a sua flexibilidade, como a maior economia do mundo." Mas Ban Ki-moon admite que, nesta fase, pode ser difícil falar de números definitivos. "Espero que as delegações respeitem as recomendações dos cientistas", afirmou, referindo-se ao Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas.
Mas também disse: "Pode ser muito ambicioso esperar que haja acordo sobre metas de redução de gases com efeito de estufa. Mas, mais à frente, temos de acordar metas".
Os países em desenvolvimento, reunidos no grupo G77, estão a pôr a tónica noutro ponto. Pretendem avançar com a adaptação às alterações climáticas e a transferência de tecnologia do Norte para o Sul.
São duas matérias previstas na Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, de 1992, mas cuja colocação em prática é ainda débil. "Gostaríamos de focalizar na aplicação da convenção", disse Munir Akram, representante permanente do Paquistão nas Nações Unidas e actual líder do G77.
A operacionalização de um fundo de adaptação para os países mais vulneráveis é já um dos resultados concretos de Bali. Mas na transferência de tecnologia as negociações colapsaram. Akram diz que a razão foi uma divergência sobre uma única palavra. Outros países não viram com bons olhos a ideia de uma espécie de mecanismo financeiro para facilitar a transferência de tecnologia.
"As negociações estavam a correr muito bem até terça-feira", disse Akram. Mas o recuo na questão da tecnologia inquinou o processo. "Isto não contribui para uma boa atmosfera".
In "Publico"
http://dossiers.publico.pt/noticia.aspx?idCanal=2224&id=1313660
Por Ricardo Garcia
13.12.2007
Nada pode ilustrar mais o contraste entre palavras e acções do que o dia de ontem na conferência climática das Nações Unidas em Bali. Logo de manhã, o tapete vermelho já estava estendido à entrada do centro de convenções para a chegada de 144 ministros e seis chefes de Estado e de Governo.
Na retórica, as expectativas não se defraudaram: houve sucessivos discursos a clamar por um acordo na conferência que está a tentar lançar um roteiro para discutir novas e urgentes medidas contra o aquecimento global.
Ao mesmo tempo, noutra sala, as negociações sobre o texto que seria a base desse roteiro chegavam a um impasse. Com obstáculos levantados por diversos países, o que deveria ser a base de um acordo transformou-se num conjunto desconexo de sugestões, a desmoronar como um castelo de cartas. Praticamente voltou tudo ao ponto de partida e espera-se que hoje surja um novo texto, fruto de contactos entre um grupo mais restrito de países.
Para montar uma engrenagem eficiente, falta uma peça central: como encaixar os EUA num acordo em que todos os países desenvolvidos se comprometam a controlar mais as suas emissões de gases que aquecem o planeta. "É fundamental os EUA definirem que envolvimento querem ter", avalia o secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa.
Os EUA têm-se oposto a referências, nesta fase, a metas de redução de emissões de dióxido de carbono (CO2) ou à menção de que devem ser reduzidas. "Quando os números aparecem num texto, predeterminam e dirigem as negociações num certo sentido", disse ontem, em Bali, James Connaughton, o principal conselheiro ambiental de George W. Bush.
Apelo de Ban Ki-moon
Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, reuniu-se terça-feira com a delegação dos EUA. "Pedi ao Governo dos Estados Unidos que exercite a sua flexibilidade, como a maior economia do mundo." Mas Ban Ki-moon admite que, nesta fase, pode ser difícil falar de números definitivos. "Espero que as delegações respeitem as recomendações dos cientistas", afirmou, referindo-se ao Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas.
Mas também disse: "Pode ser muito ambicioso esperar que haja acordo sobre metas de redução de gases com efeito de estufa. Mas, mais à frente, temos de acordar metas".
Os países em desenvolvimento, reunidos no grupo G77, estão a pôr a tónica noutro ponto. Pretendem avançar com a adaptação às alterações climáticas e a transferência de tecnologia do Norte para o Sul.
São duas matérias previstas na Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, de 1992, mas cuja colocação em prática é ainda débil. "Gostaríamos de focalizar na aplicação da convenção", disse Munir Akram, representante permanente do Paquistão nas Nações Unidas e actual líder do G77.
A operacionalização de um fundo de adaptação para os países mais vulneráveis é já um dos resultados concretos de Bali. Mas na transferência de tecnologia as negociações colapsaram. Akram diz que a razão foi uma divergência sobre uma única palavra. Outros países não viram com bons olhos a ideia de uma espécie de mecanismo financeiro para facilitar a transferência de tecnologia.
"As negociações estavam a correr muito bem até terça-feira", disse Akram. Mas o recuo na questão da tecnologia inquinou o processo. "Isto não contribui para uma boa atmosfera".
In "Publico"
http://dossiers.publico.pt/noticia.aspx?idCanal=2224&id=1313660